A turma 201 Integrado recebeu a revista ITS do mês de outubro e participou de uma sessão de fotos para enviar para uma possível publicação.
Blog para divulgação de trabalhos dos alunos do 201 Integrado da E.E.B. Maria Solange Lopes de Borba.
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
Conto - Fabricio Carpinejar
O caráter se revela na confissão
Contar um segredo é a triagem do caráter.
Ou o segredo liberta ou aprisiona. É confessando algo de que nos envergonhamos que saberemos se a pessoa é a nossa amiga ou não. Não tem teste tão veemente, com efeitos mais imediatos.
O confessionário prova se o outro é leal. Expor uma lembrança triste a quem não é de confiança logo vira chantagem, logo vira moeda de troca, logo vira favor. Pode não espalhar para os demais, mas usará a informação para obter vantagens e transformar a culpa em superioridade. Aquele que não é amigo se aproveita da fragilidade para garantir benefícios. Fortalece a vítima para desmerecê-la. Levanta para cima, diz que o segredo é nada, dissuade o medo, para rir depois da queda.
Não é um amigo, porém um inimigo em potencial, um adversário disfarçado de bons modos. No fundo, não tem escrúpulos. Aproxima-se para impor os seus interesses. Está jogando sujo para ganhar recompensas fáceis. Ele se faz de compreensivo e compassivo com o objetivo de manipular a relação.
Há como prever o Judas antes da confissão. Pois Judas trai com um beijo. Será alguém que se mostra muito carinhoso de uma hora para outra. Tem pressa de saber tudo a seu respeito, sem nenhuma razão aparente. Aparece forçando a intimidade, com convites generosos e apoios nababescos.
Cuide com o que fala. Porque aquilo que falar mostrará a natureza de suas companhias. A decepção virá rapidamente na forma de um insulto e de uma ironia. No primeiro desentendimento, o túmulo de cimento das palavras não resiste às marteladas da profanação.
A traição será sempre a violação de uma confidência. Os suspeitos não mudam com o tempo. É um colega de trabalho concorrendo com você. É um antigo afeto querendo vingança. É um familiar ressentido com o passado.
Amigo que é amigo escuta e esquece, e jamais volta para o assunto. Ouve e apaga. Escreve na água, para a onda levar. Escreve na areia, para o vento cobrir.
Cumplicidade é como bebedeira, nunca lembrar o que aconteceu durante a vulnerabilidade da conversa.
Amigo que é amigo mantém a decência de uma gaveta, de um cofre, de uma chave. Demonstra a sobriedade educada e gentil de ajudar e desaparecer. Já cumpriu o papel de dividir as dores e frustrações. Não alimenta a ambição de ser maior do que o silêncio.
Publicado em Jornal Zero Hora em 27/08/17
Contar um segredo é a triagem do caráter.
Ou o segredo liberta ou aprisiona. É confessando algo de que nos envergonhamos que saberemos se a pessoa é a nossa amiga ou não. Não tem teste tão veemente, com efeitos mais imediatos.
O confessionário prova se o outro é leal. Expor uma lembrança triste a quem não é de confiança logo vira chantagem, logo vira moeda de troca, logo vira favor. Pode não espalhar para os demais, mas usará a informação para obter vantagens e transformar a culpa em superioridade. Aquele que não é amigo se aproveita da fragilidade para garantir benefícios. Fortalece a vítima para desmerecê-la. Levanta para cima, diz que o segredo é nada, dissuade o medo, para rir depois da queda.
Não é um amigo, porém um inimigo em potencial, um adversário disfarçado de bons modos. No fundo, não tem escrúpulos. Aproxima-se para impor os seus interesses. Está jogando sujo para ganhar recompensas fáceis. Ele se faz de compreensivo e compassivo com o objetivo de manipular a relação.
Há como prever o Judas antes da confissão. Pois Judas trai com um beijo. Será alguém que se mostra muito carinhoso de uma hora para outra. Tem pressa de saber tudo a seu respeito, sem nenhuma razão aparente. Aparece forçando a intimidade, com convites generosos e apoios nababescos.
Cuide com o que fala. Porque aquilo que falar mostrará a natureza de suas companhias. A decepção virá rapidamente na forma de um insulto e de uma ironia. No primeiro desentendimento, o túmulo de cimento das palavras não resiste às marteladas da profanação.
A traição será sempre a violação de uma confidência. Os suspeitos não mudam com o tempo. É um colega de trabalho concorrendo com você. É um antigo afeto querendo vingança. É um familiar ressentido com o passado.
Amigo que é amigo escuta e esquece, e jamais volta para o assunto. Ouve e apaga. Escreve na água, para a onda levar. Escreve na areia, para o vento cobrir.
Cumplicidade é como bebedeira, nunca lembrar o que aconteceu durante a vulnerabilidade da conversa.
Amigo que é amigo mantém a decência de uma gaveta, de um cofre, de uma chave. Demonstra a sobriedade educada e gentil de ajudar e desaparecer. Já cumpriu o papel de dividir as dores e frustrações. Não alimenta a ambição de ser maior do que o silêncio.
Publicado em Jornal Zero Hora em 27/08/17
dica de filme - Kingsman: o circulo Dourado
Embora diga em entrevistas que evitava cair nas armadilhas das continuações - contar com um orçamento maior e fazer um filme mais barulhento e explosivo - o diretor Matthew Vaughn não seguiu à risca o próprio discurso. Em Kingsman: O Círculo Dourado, continuação do longa feito por Vaughn em 2014, o que vemos é uma versão mais inchada e desfocada de Kingsman.
O novo filme reaproveita os elementos mais marcantes do anterior - a ação estilosa e o humor sexista - mas amplia o escopo, e multiplica o elenco. Astros dos dois lados do Atlântico povoam uma trama que começa com o fim da agência de espiões Kingsman e a entrada de uma contraparte americana, os Statesmen. As piadas sobre as diferenças culturais dos dois países surgem no começo para definir essas relações mas rapidamente o filme parte para aleatoriedades, particularmente nas viradas pouco convincentes de roteiro, escritas a toque de caixa, como o entra-e-sai de personagens e suas motivações.
A matriz continua sendo a mesma: o lado mais lúdico dos filmes de James Bond, com seus vilões extravagantes, ação mirabolante e suas tecnologias de ficção científica. Particularmente a fase dos anos 1970, estrelada por Roger Moore, serve de inspiração para Kingsman 2, que recicla esse referencial de forma desapegada para atualizá-la a um público que aprendeu hoje a lidar com tudo na base da ironia.
No geral, o filme parece tirar elementos de um saco de bingo (como naquele episódio de South Park em que eles parodiam a forma como Family Guy cria suas piadas) sem se preocupar com como eles se organizam. Com exceção de uma outra coisa contemporânea na premissa (a justificativa da vilã, o presidente americano inspirado em Donald Trump), tudo é atemporal na generalização. Em termos de ação, Vaughn mantém o estilo de câmera que havia se destacado em Kingsman, com os chicotes entre close-ups, mas a novidade é o senso de escala, ampliada para dar a tudo um tom mais megalomaníaco.
O novo Kingsman parece se justificar apenas pela expectativa de gerar uma nova franquia. O desfecho deixa ganchos que não apenas ampliam o leque de opções para o terceiro longa como também para derivados. Assim, o que começou como um alento engraçado no meio de blockbusters sisudos rapidamente se transforma no produto hollywoodiano típico, serializado e marrento, e Kingsman nem parece ter sentido que já foi atirado no moedor de carne.
retirado em : https://omelete.uol.com.br/filmes/criticas/kingsman-2/
dica de Leitura - O livro dos ressignificados
Releituras poéticas em que experiências pessoais com substantivos, adjetivos e verbos pesam mais do que a objetividade dos dicionários.
Antes aprisionadas na formalidade dos dicionários, palavras como “girassol”, “Deus”, “sonho”, “tatuagem”, “cafuné” e muitas outras são libertadas por João Doederlein — que assina com o pseudônimo AKA Poeta — neste seu primeiro livro. Elas são repensadas a partir das experiências pessoais do autor, de vinte anos, e de sua geração, mesclando romantismo bem resolvido, paixão, isolamento e um dia a dia que respira tecnologia e cultura pop.
Combinando textos que se tornaram sucesso nas redes sociais com material inédito, o autor acha novos significados para os signos do zodíaco, para clichês indispensáveis como “paixão” e “saudade” e para as atualíssimas “match” e “crush”. Uma história de amor correspondido entre um jovem e sua musa — a escrita.
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
dica de série - This is Us
This Is Us acompanha os irmãos Kate, Kevin e Randall, nascidos na mesma data, enquanto suas vidas se entrelaçam. Kate e Kevin são os filhos biológicos de Jack e Rebecca, enquanto Randall foi adotado pelo casal após eles terem perdido o terceiro filho da gravidez de trigêmeos durante o parto. A série apresenta a história da família em épocas diferentes, alternando entre o presente e a infância dos três irmãos.
No elenco estão Mandy Moore (Red Band Society), Milo Ventimiglia (Gilmore Girls), Sterling K. Brown (The People v. O.J. Simpson), Justin Hartley (Revenge), Chrissy Metz (American Horror Story), Susan Kelechi Watson (Louie), Chris Sullivan (The Knick) e Ron Cephas Jones (Mr. Robot).
quarta-feira, 4 de outubro de 2017
segunda-feira, 2 de outubro de 2017
crônica - Fabricio Carpinejar
NEM NO LADO ESQUERDO, NEM NO LADO DIREITO
Foto: Gilberto Perin
O amor nos tira o lugar do sono.
Você nunca dormirá do mesmo jeito depois de casar. Nunca voltará a descansar num lado certo da cama, num canto fixo. Não será mais no lado direito ou esquerdo, será atravessado. Ocupará as linhas verticais e horizontais progressivamente.
Toda a cama estará desarrumada ao despertar. Na adolescência, você se restringia a uma metade. Podia acordar e a segunda metade resistia intocada. Era fácil arrumar as cobertas, bastava ajeitar o montinho.
O amor perturbou a sua bússola. Depois de casado, jamais terá paz. Dormir é também se desesperar por um abraço, uma conchinha, um toque. Dormir é correr por dentro dos lençóis. É o constante medo de perder alguém e o habitual resgate.
Buscará os pés de quem ama no decorrer da madrugada, aceitará a confusão do espaço, não determinará mais o que é seu, enroscará as pernas nas pernas do outro. Não mais dormirá parado como antes. Estático. Estará, pouco a pouco, migrando para o cheiro vizinho. Escorregando para mais além.
Pode se separar, pode pousar longe num hotel, pode ter a cama somente para si, não importa, o seu corpo se encontrará cruzado. A cabeça na esquerda e o tronco na direita. Qualquer que seja a noite, qualquer que seja a manhã. O ninho se espalhou pela árvore inteira. A árvore se espalhou pelo céu.
Acostumou-se a se mexer de modo incessante, a cumprir uma ginástica involuntária, a completar uma coreografia inconsciente. Afasta-se e se aproxima sem parar, vira-se para ficar sozinho mas se sente logo culpado e procura estar junto de novo.
Nunca retornará à uma posição definitiva e calma, de usar apenas uma parte necessária do todo. Enfrentará a sina igual, divorciado ou casado: um crucifixo em movimento, revirando o norte e o sul, o leste e o oeste do quarto. Trata-se de uma herança irreversível da vida de casado.
O amor amputa a tranquilidade da cama. É dormir dobrando o corpo e se amontoando com a companhia.
Publicado em O Globo em 24/08/17
Foto: Gilberto Perin
O amor nos tira o lugar do sono.
Você nunca dormirá do mesmo jeito depois de casar. Nunca voltará a descansar num lado certo da cama, num canto fixo. Não será mais no lado direito ou esquerdo, será atravessado. Ocupará as linhas verticais e horizontais progressivamente.
Toda a cama estará desarrumada ao despertar. Na adolescência, você se restringia a uma metade. Podia acordar e a segunda metade resistia intocada. Era fácil arrumar as cobertas, bastava ajeitar o montinho.
O amor perturbou a sua bússola. Depois de casado, jamais terá paz. Dormir é também se desesperar por um abraço, uma conchinha, um toque. Dormir é correr por dentro dos lençóis. É o constante medo de perder alguém e o habitual resgate.
Buscará os pés de quem ama no decorrer da madrugada, aceitará a confusão do espaço, não determinará mais o que é seu, enroscará as pernas nas pernas do outro. Não mais dormirá parado como antes. Estático. Estará, pouco a pouco, migrando para o cheiro vizinho. Escorregando para mais além.
Pode se separar, pode pousar longe num hotel, pode ter a cama somente para si, não importa, o seu corpo se encontrará cruzado. A cabeça na esquerda e o tronco na direita. Qualquer que seja a noite, qualquer que seja a manhã. O ninho se espalhou pela árvore inteira. A árvore se espalhou pelo céu.
Acostumou-se a se mexer de modo incessante, a cumprir uma ginástica involuntária, a completar uma coreografia inconsciente. Afasta-se e se aproxima sem parar, vira-se para ficar sozinho mas se sente logo culpado e procura estar junto de novo.
Nunca retornará à uma posição definitiva e calma, de usar apenas uma parte necessária do todo. Enfrentará a sina igual, divorciado ou casado: um crucifixo em movimento, revirando o norte e o sul, o leste e o oeste do quarto. Trata-se de uma herança irreversível da vida de casado.
O amor amputa a tranquilidade da cama. É dormir dobrando o corpo e se amontoando com a companhia.
Publicado em O Globo em 24/08/17
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